terça-feira, 5 de maio de 2009

excessivo

eu quis um violino no telhado
e uma arara exótica no banho.
eu quis uma toalha de brocado
e um pavão real do meu tamanho.
eu quis todos os cheiros do pecado
e toda a santidade que não tenho.
eu quis uma pintura aos pés da cama
infinita de azul e perspectiva.
eu quis ouvir ouvir a história de Mira Burana
na hora da orgia prometida.
eu quis uma opulência de sultana
e a miséria amarga da mendiga.
eu quis um vinho feito de medronho
de veneno, de beijos, de suspiros.
eu quis a morte de viver dum sonho
eu quis a sorte de morrer dum tiro.
eu quis chorar por ti durante o sono
eu quis ao acordar fugir contigo.
mas tudo o que é excessivo é muito pouco.
por isso fiquei só, com o meu corpo.

Rosa Lobato Faria