acordo de noite subitamente
e o meu relógio ocupa a noite toda...
não sinto a Natureza lá fora,
o meu quarto: uma coisa escura com paredes vagamente brancas
lá fora há um sossego como se nada existisse
só o relógio prossegue o seu ruído
esta pequena coisa de engrenagens que está em cima da minha mesa
abafa toda a existência da terra e do céu...
quase que me perco a pensar o que isto significa,
mas estaco,
sinto-me sorrir na noite com os cantos da boca,
porque a única coisa que o meu relógio simboliza ou significa
é a curiosa sensação de encher a noite enorme
com a sua pequenez...
Fernando Pessoa
terça-feira, 28 de abril de 2009
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