sábado, 3 de janeiro de 2009

Soul searching in a 20 track playlist

PLAY. [The Story] Saio de casa, começa a viagem. As ruas continuam cheias, parece que ainda há mais pessoas que na época de natal. Os prédios à volta ressurgem com um ar lavado. Enquanto o sol pinta os telhados de cores quentes, o frio insiste em lembrar que ainda é Inverno. Que bom estar de volta a esta cidade, onde parece que o tempo não existe, nem importa. Toda esta gente à volta... e esta correria... será que as pessoas se apercebem do que passa no resto do mundo?
Uma velhota no multibanco olha com um ar desconfiado, refugia-se dentro da máquina. De certeza que tem gatos. [Times Like These]
Fazendo o balanço do ano, parece que cheguei onde me propus. Há quatro anos quando decidi sair, tinha vários objectivos: ser independente, viajar, atingir o nível profissional que queria, conhecer pessoas do mundo inteiro, ver espectáculos, viver outras cidades e outras culturas, conhecer outras realidades. [Wonderwall] O que será que ela está a fazer agora?
Paro na passadeira, o Tejo em frente lembra-me que deveria um dia destes atravessar de cacilheiro. Ainda não o fiz... Entro na estação. Bilhete com último destino. [Jane Says]. Cheguei onde cheguei, e agora? O que vem a seguir? Que sensação é esta que falta algo para que tudo faça sentido, e que tudo o fiz até agora pouco ou nada significa? Faltam quinze minutos para partir, sento-me numa janela do lado do rio. É melhor enviar uma mensagem a avisar a que horas chego. [U Turn] Revivo o último ano da minha vida num segundo: algo falhou? Deixei levar-me pelos momentos, não interferi, nem comprometi com nada. E que ganhei? Nada. Vi gigantes caírem, vi homens feitos chorar, vi o melhor e o pior da natureza humana, e marcou-me ver que o que fica é o pior e não o melhor de cada um. [The Beginning Song]
Uma mensagem. Vêm-me buscar à estação. Óptimo.
Já estamos a andar. Parece que Lisboa inteira veio ver o rio. Pessoas a passear, sozinhas ou com cães, a correr, pescar, ou simplesmente a fugir de uma rotina onde não há nem sol nem rio.[What’s a Girl to do]
Deveria ter sido diferente? Talvez não, mas quem viveu tudo isto parece que não fui eu, mas um personagem de uma outra história. Onde está a paixão com que sempre me entreguei a tudo? Mesmo às causas perdidas?
Uma mensagem. É ela, não pode vir hoje, quer tentar combinar qualquer coisa para a próxima. Que pena. Gostava de a ver, sentir, e estar a seu lado. [My Good Deed] Que é isto que sinto? Não me sentia assim por ninguém há muito tempo. Tenho a sensação de que se estivéssemos juntos seria perfeito, vejo todo um futuro brilhante, e melhor... feliz.
Lá fora vejo todos estes lugares comuns dos turistas. Admito que mal conheço esta terra fantástica, e que ou nunca visitei estes lugares ou só os vi quando era miúdo. Mais uma resolução: [re]conhecer bem a minha cidade, ou pelo menos tão bem como as cidades que me acolheram. [Lost] Não falta muito para sair desta terra da pasmaceira que tanto gosto. Vejo o mar. Tinha saudades tuas.
[What else is there?] Irei voltar, e seja como for, vou encontrar a paixão que tinha, estou farto de assumir um papel passivo, só porque tenho que tentar aguentar a realidade à minha volta. Ou luto por aquilo que acredito, ou saio. Qualquer outra atitude, não sou eu. A paciência que dizem para ter, é para os outros. Recuso-me a ficar sereno, quando tudo à volta cai. E se lutar e cair também, pelo menos ficarei satisfeito porque fiz o que devia e fui verdadeiro comigo. [I Feel It All]. Passo pelos lugares de meu passado, as casas, as escolas, as praias, o paredão: refúgios onde sempre me encontrei e que fazem parte de quem sou.
Tenho saudades dos tempos em que éramos uma família. Mesmo com os divórcios, sempre encontrávamos o nosso espaço e nunca deixávamos ninguém cair. Esses tempos morreram. [Something to Believe In] Quem será que está a passear ao lado do mar? Há sempre alguém conhecido por aí: um café, uma conversa, uma dissertação filosófica sobre nada. Pequenos momentos que nos fazem sentir cheios.
[Round Here] Como é possível que ela tenha entrado assim em mim? Não a esqueço. Ela afasta-me e puxa-me ao mesmo tempo, e não sei se esta também não é uma causa perdida. Ela precisa de se encontrar, saber quem é, talvez aí tenhamos futuro. Gostava de estar ao seu lado nesse percurso. Gostava de estar ao seu lado, ponto. Mas esta guerra é só dela, e apesar de estar sempre aqui, só posso estar a seu lado se ela quiser. Como posso fazer mais se ela não deixa aproximar-me? [Dakota] Os surfistas estão a tentar aproveitar as primeiras ondas do ano. Lembro-me de fazer caça submarina nesses mesmo sítios. Amigos que já cá não estão ou que se perderam pelo caminho. As nossas relações acabam por ser assim: quem vai cá estar daqui a uns anos, de quem me desliguei, por quem lutei para que ficasse no meu mundo, e quem lutou para ficar no meu? Será que ela vai estar?
[Realize] Já dei o passo que precisava, e que tanto me assustava. Não custou assim tanto. Saí do meu desterro emocional. Onde será que isto me levará, e será que me refugiarei outra vez quando começar tudo a cair outra vez? [This years love] Sinto saudades dela. Quero continuar a sentir-me assim, mas quero mais, muito mais, quero tudo.
Estou quase a chegar. Olho à minha volta: quem é esta gente que também viaja hoje e a estas horas? Como serão as suas vidas, também se interrogarão com a sua vida? E o que fazem com isso? Serei eu o único maluquinho que se força a passar por isto? Mando uma mensagem a avisar que estou a chegar. Não gosto de ficar à espera. [Lucky Man] Uma criança chora à minha frente, faz birra porque quer qualquer coisa. Os miúdos são cada vez mais mal educados, as pessoas devem ter medo de impôr disciplina. Ao lado, um homem fala ao telemóvel como se estivesse um problema grave de audição. Quem é esta gente?
[Everybody’s Changing] Revi tanta gente nestes dias... Foi bom, mas ao mesmo tempo assustador: alguns evoluíram, parecem genuinamente felizes, muitos casaram-se, falam em filhos e futuros que já não são os deles. Outros parece que ficaram pelo caminho, parados no tempo sem querer admitir que os nossos mundos continuaram. Eu também fugi do passado onde fui feliz. [I’m yours] Tentei ignorar as pessoas que mais me marcaram para poder olhar para a frente sem mágoas. Mas quer queira, quer não elas fazem parte de mim, de quem sou. O passado já foi, os sentimentos de eternidade ficaram pelo caminho. Não vale a pena esconder-me mais.
[Guaranteed] Cheguei, saio com a multidão. A estação não mudou nada. Começo a sentir-me em paz. Sei que só posso sentir-me cheio sendo verdadeiro, sendo quem sou a toda a hora, não posso usar medos, inseguranças ou outras desculpas para fugir. Sei [agora] que vou lutar por amor, não ligar a orgulhos nem a dedos. Não gosto de me sentir sozinho e sei que a felicidade só existe se for partilhada. Onde estás?
Estão à minha espera. Entro no carro. Acabou a viagem. STOP

1 comentário:

Unknown disse...

Pretty cool my dear friend.

Náo há lugares comuns quando se escreve o que se sente. Gostei da frase do final do Into the Wild. Um gajo que faz uma viagem arrogante de auto descoberta para realizar que afinal tudo o que precisa é de alguém com quem partilhar. Conheço uma ou duas pessoas que se podem identificar com isso ;)

JB