Pensava que já não sentia nada. O mundo tinha-me feito imune a quase todas as emoções, e estava com quem me pudesse acompanhar: bastava uma lista de qualidades, alguns defeitos suportáveis e um pouco de jogo (que o jogo faz sempre bem ao ego), e ia tendo pessoas ao meu lado.
Pouco a pouco, comecei a sentir o vazio. Quem já amou uma vez, por muito que tente, nunca consegue ignorar que o mundo perdeu cor.
Refugiei-me no ego, fazendo conquistas e largando-as, sem remorços, só aventuras que me faziam sorrir e, por instantes, pareciam saciar esta minha sede. Tudo eram máscaras, ilusões e jogos. Que me lavavam as mão de qualquer culpa, e desproviam-me de sentimentos. A adrenalina e a libido, podem ser poderosas companheiras.
Sem querer, sem planos, apareceu uma mulher. Poderia imaginar mil e um nomes para ela, anjo, salvadora, rainha, princesa. Mas não, era uma mulher de carne e osso, que tal como eu, já sentia impossível o amor, mas que estava disposta a lutar pelo que queria.
Os nossos mundos eram totalmente separados mas não conseguíamos deixar de sentir a presença forte do outro mesmo quando estávamos sozinhos. Completavamos muitas dúvidas, complementando um ao outro e finalizando o que poderia ser uma obra de arte. Quando estávamos juntos, nada mais no mundo importava, e não havia outro sítio para chamar "home".
Eu confuso, no que ouvia, intimidado por ter alguém que entrava assim na minha vida confortável e solitária, e com uma bagagem que insistia em não largar. Defendi-me a não a deixei entrar. Inclusive fiz o que mais me envergonho, magoei-a, e quando mais precisou de mim, não estive lá a apoiar-la. Na minha cobardia de me comprometer, e perder tudo aquilo que me faz estar sempre em absoluto controlo, perdi-a.
Na minha infantilidade, falhei o mais óbvio, "que o essencial é invisível aos olhos", e que tive aí o que poderia ter sido o melhor da minha vida.
Pelo menos, o sol hoje brilha e as férias vêm aí.
quinta-feira, 18 de dezembro de 2008
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